22/09/2021
Saiba mais sobre as mesas temáticas do #FAIL
Confira a seguir mais detalhes sobre as mesas temáticas que integrarão o #FAIL | Tecnologia e política: pensar e fazer mundos a partir de suas falhas e ruínas.
Todas as mesas serão transmitidas pelo canal do YouTube do MediaLab.UFRJ e terão tradução simultânea para o espanhol (teremos um link de transmissão com o áudio original, outro com a tradução).
Mesa de abertura | Segunda-feira, 27/09, 17h_19h
O filósofo camaronês Achille Mbembe e a pesquisadora e curadora portuguesa Margarida Mendes abrirão o evento.
Mbembe tem uma vasta obra sobre história e política do continente africano e ensaios críticos sobre a subjetividade pós colonial, da qual se destacam os livros Políticas da Inimizade – que contém o ensaio Necropolítica -, Crítica da Razão Negra, e o mais recente, Brutalismo. Seu trabalho denuncia a falha do projeto moderno de subjetividade humanista e do modo de produção capitalista imperial-colonialista em promover “liberdade, igualdade e fraternidade” em detrimento de uma gestão empresarial dos recursos naturais e culturais.
Curadora, pesquisadora, ativista, Mendes atua na interseção entre cibernética, filosofia, ecologia e cinema experimental. Ela explora as transformações dinâmicas do ambiente e o seu impacto nas estruturas sociais e no campo da produção cultural e, também, formas alternativas de educação e resistência política por meio da sua prática colaborativa, da programação curatorial e do ativismo. Atualmente, Mendes é doutoranda no Centre for Research Architecture, Goldsmiths University of London, com o projeto “Deep Sea Spectrum“.
A conversa será mediada pela coordenadora do Media.Lab UFRJ, Fernanda Bruno.
Mesa 1: #FAIL Neoliberal | Quarta-feira, 29/09, 17h_19h
Neoliberalismo é mais que uma lista de políticas e práticas econômicas como a austeridade fiscal, o corte de gastos públicos, a desregulamentação do trabalho e a promoção do livre mercado. O ambicioso projeto neoliberal se estende desde o nível global até as relações cotidianas e os retiros mais íntimos da nossa vida subjetiva. Não só países e instituições, mas cada ser humano deve ser remodelado em um competidor de mercado convocado a se autopromover e se reconfigurar permanentemente.
Nas últimas duas décadas, a digitalização trouxe ao neoliberalismo um ambiente sociotécnico ideal ao seu desenvolvimento. Trabalhadoras e trabalhadores recorrem a aplicativos de serviços como uma alternativa precarizada ao desemprego. As big techs acumulam cada vez mais dados, capital e poder. As virtudes da política, do dissenso e da justiça passam a ser avaliadas algoritmicamente em dinâmicas de influência, visibilidade e engajamento.
Ao transformar as mediações sociais, a economia, o trabalho, os processos políticos e os modos de subjetivação, a convergência do neoliberalismo com a digitalização tornou-se um modelo normativo cuja racionalidade produz mundos em que as práticas do comum e da democracia entram em crise.
Convidamos, para essa conversa:
· Alana Moraes (Museu Nacional, UFRJ)
_Nas ruínas do progressismo: bloqueio, desaceleração e reconfiguração das zonas de conflitualidade no Brasil contemporâneo
· Paulo Galo (Entregadores Antifa)
· Rodrigo Nunes (PUC-Rio)
_Remédios que Matam: Neoliberalismo como Doença Autoimune
· Verônica Gago (Universidade de Buenos Aires, Argentina)
_Apuntes sobre crisis neoliberal y salvatajes financieros
A mesa será mediada por Letícia Cesarino (UFSC).
Mesa 2: #FAIL Tecnológico | Quinta-feira, 30/09, 17h_19h
“Se a ficção científica é a mitologia da tecnologia moderna, então seu mito é trágico”, vaticinou Ursula K Leguin. Ao fim do século XX, os discursos e os imaginários tecnológicos foram povoados por esperanças sobre as tecnologias emergentes. À Internet, em especial, era atribuída a vocação de ser um ambiente horizontal no qual indivíduos das mais diferentes partes do planeta pudessem interagir e ampliar os laços sociais e a troca de conhecimento.
Passadas algumas décadas, o cenário é radicalmente oposto. A passagem da utopia à distopia foi alavancada pela privatização das infraestruturas técnicas. A dataficação e o monitoramento intermitente dos seres quantificam o mundo para monetizar todo aspecto possível da existência. A racionalidade algorítmica modula os processos cognitivos, epistemológicos, econômicos e subjetivos. Nesse movimento, atualiza algoritmicamente o racismo, a eugenia do olhar e as lógicas extrativistas coloniais.
Desde o Sul Global, entretanto, sabemos que a falha da utopia também pode ser uma oportunidade para contestar, imaginar e criar outras relações com a tecnologia. Da adversidade e da gambiarra vivemos! Afirmar tal condição-invenção não equivale, contudo, a tomá-la como saída fácil ou irresponsável. Trata-se, antes, de reforçar a importância do trabalho contínuo de questionamento e reconstrução de conexões humano-maquínicas que possibilitem mundos comuns em nossos ecossistemas sociotécnicos.
Convidamos, para essa conversa:
· Erick Felinto (UERJ)
_Pesadelos Digitais: Arqueologia do Imaginário das Redes e a Tragédia do Presente
· Giselle Beiguelman (USP)
_Desprogramar é preciso (Inteligência Artificial e eugenia maquínica)
· José Messias (UFMA)
_Gambiarra como precariedade emergente: conhecimento e técnica nas ruínas do projeto colonial/moderno
· Paola Ricaurte (Inst. Tecnologico Monterrey, México)
_Máquinas que fallan: habitar las fallas de origen
A mesa será mediada por Fernanda Bruno, coordenadora do MediaLab.UFRJ.
Mesa 3: #FAIL Climático | Sexta-feira, 01/10, 10h30_12h30
A ideia de Antropoceno surge para designar uma nova época geológica em que os processos ecológicos são continuamente afetados profundamente pelas atividades industriais. O planeta foi transformado em decorrência do extrativismo em larga escala, do uso de combustíveis fósseis, do crescimento populacional e da produção de resíduos que não podem ser reintegrados aos ciclos energéticos dos seres vivos. A atividade humana sobre os ecossistemas terrestres foi de alto impacto em pouco tempo e, dentre as consequências ecológicas desses processos, a mudança climática é uma das mais preocupantes, devido à potencial ameaça para as possibilidades de sobrevivência da espécie humana.
A preservação da humanidade em face de um novo regime climático demanda uma nova perspectiva de mundo que ultrapasse noções de responsabilidade individual e recupere o pensar coletivo sobre os recursos ecológicos que foram capturados, privatizados e subjugados em nome do lucro capitalista. Somos convocados, assim, a pensar a codependência de diferentes comunidades e ecossistemas existentes, uma cooperação capaz de alimentar formas sustentáveis de coexistência.
Convidamos, para essa conversa:
· Alyne Costa (UFRJ, PUC-Rio)
_Interdependência ou dupla morte! Modos terrestres de sobrevivência no Antropoceno
· Francineia Fontes Baniwa (Walipere-dakeenai, Museu Nacional/UFRJ)
_Mudanças climáticas: A floresta é minha casa e meu mundo, a partir de um olhar Baniwa
· Luiz Alberto Oliveira (CBPF)
_Geopolítica em Tempos Deslineares
A mesa será mediada por Cinthia Mendonça (Silo Arte e Latitude Rural).
Mesa 4: #ATAFONA: estéticas da erosão | Sexta-feira, 01/10, 17h_19h
A praia de Atafona, localizada no município de São João da Barra, litoral norte do Estado do Rio de Janeiro, sofre há mais de cinco décadas um intenso processo de erosão costeira. O avanço do mar sobre os sedimentos do solo e, no caso de Atafona, sobre as fundações das construções na orla, já tragou mais de 15 ruas e 500 construções. As imagens de casas devoradas pelo mar e de areias mais cheias de escombros do que de banhistas são a face mais bruta de um processo de degradação socioambiental que não se reduz a um caso isolado num balneário decadente do norte fluminense.
A erosão costeira é um fenômeno global que ocorre em 70% das praias arenosas do planeta, resultado de mudanças ambientais e de ações humanas. No caso de Atafona, onde também se situa a foz do rio Paraíba do Sul, a erosão costeira está intimamente relacionada às interferências neste rio: desvios no seu fluxo, poluição, desmatamento da mata ciliar, entre outros. Um fenômeno localmente conhecido como uma velha luta do grande rio contra o mar chegou a um possível esgotamento, ao ponto de sua foz, na região do “Pontal de Atafona”, ter se fechado. O rio outrora caudaloso não tem mais força para desaguar no mar.
As ruínas erodidas de Atafona expõem, assim, as múltiplas falhas de um modelo civilizatório em colapso. Mas elas também apontam, com sua gente, seus animais, vegetais e ecossistemas, a persistência e reinvenção de modos de vida em meio a desestabilizações geológicas, ambientais, econômicas e sociais.
A mesa “Atafona: estéticas da erosão” inspira-se no trabalho da CasaDuna – Centro de arte, pesquisa e memória de Atafona (@casadunaduna) – que habita esse território instável para nele produzir agenciamentos estético-políticos para “além da catástrofe e da distopia”.
O desejo é que o trabalho de memória e fabulação disparado pela CasaDuna alimente essa última mesa do evento, que ressoa todas as outras. Depois e junto das falas que a antecedem, os fortes ventos de Atafona ativam a arte de pensar e fazer mundos em meio a falhas e ruínas.
Convidamos, para essa conversa:
· Fernanda Bruno (UFRJ)
· Julia Naidin e Fernando Codeço (CasaDuna, UENF, Atafona)
_CasaDuna – Arte em campo erodido
· Luiza Marcier (UFRJ, PUC-Rio)
_Meet me in Atafona
A mesa será mediada por Fernanda Bruno e Luiza Marcier.